Entre o internacional e o local: a educação de infância na encruzilhada das políticas de globalização. Um estudo de caso na ilha da Madeira.

O currículo é, indubitavelmente, o mentor da aprendizagem. No caso específico da educação de infância (EI) é coconstruído pelo educador, pelo que é por demais importante que, ao contextualizá-lo, ele reflita, de forma crítica e construtiva, sobre quais os conhecimentos, importantes ou válidos, que merecem fazer parte do currículo, sobre quem deve estar envolvido nesta coconstrução e, ainda, pensar sobre a importância de se dar tempo às crianças para interiorizarem as aprendizagens.

Assim, este estudo inicia com a apresentação de uma revisão literária sobre a essência dos conceitos em torno do campo específico da EI rumo ao porto de chegada, onde desenvolvemos uma reflexão ancorada na proposta de um currículo-sem-tempo, por forma a dar tempo à criança para construir a sua identidade, subjetividade, interesses e aprendizagens profundas e significativas. Recorremos à realização de dois estudos empíricos, um de natureza documental (Afonso, 2005; Bardin, 1979; Bogdan & Biklen, 1994; Albarello et al. 2011), e outro de índole interpretativa (Denzin & Lincoln, 2006; Bogdan & Biklen, 1994; Bogdan & Taylor, 1986; Lapassade, 2001), de dimensão de estudo de caso de natureza etnográfica (Fino, 2008b; Morgado, 2013;Vasconcelos, 1997, 2016; Sousa, 1997, 2000; Stake, 2012; Woods, 1999), através da observação, em contexto natural de jardim de infância, das práticas de uma educadora, a nível local, na Região Autónoma da Madeira, relativamente ao modo como interpreta as orientações e as implementa e como explora o envolvimento da criança e famílias na construção e gestão do currículo.

Como resultado deste estudo, relevamos a necessidade de o educador descartar as abordagens behavioristas, caracterizadas por uma educação altamente estruturada e centrada na transmissão de conhecimentos, para dar uma resposta adequada ao grande desafio que se coloca atualmente - (re)construir propostas curriculares únicas e contextualizadas aos interesses, desejos e necessidades da criança, família e comunidade local e não uma única proposta para todas as crianças. É igualmente importante que se desenhe uma proposta curricular de aprendizagem onde a criança assuma um papel ativo, mediante um pensar lento, crítico e autêntico, e que lhe seja dado tempo para (re)construir o seu conhecimento, atitudes e habilidades, num ambiente rico em nutrientes cognitivos, tornando-a, desta forma, construtora do seu próprio processo de desenvolvimento e aprendizagem.

Palavras-Chave: educação de infância, currículo, prática pedagógica, conhecimento, tempo, aprendizagem profunda e significativa.